O Jarro

 



Um dia a tristeza que havia afinal foi toda guardada num jarro de cristal. 

(naquela época era tão pouca a tristeza que para contê-la não era preciso grandeza)

Porém de repente, um vento gelado, vindo de local ocultado, chegou perto do vaso que bambeou para o lado, e então se quebrou num círculo exato. 

(houve quem jurasse ter ouvido sussurros apressados, e os mais afobados entenderam que alguém lhes queria passar a perna, assim sendo tal vento poderia ter vindo apenas de uma noite eterna)

O jarro quebrado a tristeza espalhou bem rapidinho e se alojou em quem encontrou, fazendo crescer o que antes cabia num simples jarrinho, e o que antes era fugaz era agora maior do que o mundo e ainda mais. 

Quem guardou a tristeza esqueceu que o mal dela precisava e numa trama bem planejada como nunca antes se viu, soprou das trevas seu canto tão vil. 

E hoje a guardamos muito sem sorte, alojada no peito, aportada no leito até que transborde.

A tristeza veio pra ficar e o que nos resta é com ela conviver, e aprender a lidar. Entretanto o mal agiu em nome do equilíbrio. Quem diria que ele viria em nosso auxílio? Pois ausente o triste pesar, nos corações provocou uma canção insipiente de emoções.

Não, não eram mais tristes os poetas nas noites das luas, nem lhe faziam tremer suas musas, provocantes e nuas... e suas lágrimas secaram as flores da alma, restando apenas o tédio da calma. 

Mas agora, senhor? Nos atingindo como um soco, brotam flores de novo! E o prazer da dor!

Pois na alma que aflora, entre a pétala e a tora, há novamente uma flor deslumbrante

que chora. 

Foto de Trnava University na Unsplash

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