A Declaração do Condenado



Recolho-me a minha maldade,

fecho os olhos para ver meus fantasmas,

e abro os ouvidos para suas súplicas. 

As sombras me abraçam como um manto congelante. 

Meu sangue tinge o piso de meu cárcere. 

Fora da cela eles gritam o meu nome,

e seu ódio alimenta as chamas na fogueira. 

Minhas mãos tocam a rocha na parede,

e meus dedos conversam com as marcas daqueles que vieram antes de mim. 

Sinto sua angústia e desespero,

além de um falso arrependimento. 

Amanhã será meu último dia. 

A fome da multidão será saciada com a minha carne. 

Quantos outros virão depois de mim?

Seus dedos tocarão a mesma pedra?

Serão capazes de sentir o que senti?

Hoje é minha última noite nesta Terra. 

O ar que invade meus pulmões nunca foi tão aconchegante. 

Ontem sonhei que estava no Paraíso. 

Sinto um estranho alívio no peito,

e um acolhimento invisível nascido de uma certeza conhecida apenas por mim. 

Eles precisam domar suas próprias feras,

e talvez um dia, quem sabe?

Mas não na minha vez. 

Foi uma boa vida. 

Eu não estou com medo,

e de nada me arrependo.

Talvez um dia, quem sabe, eles sejam capazes,

de domar suas próprias feras.

Que o próximo tenha melhor sorte. 

Serei eterno em meus sonhos,

e dono de uma leveza que eles desconhecem. 

Mas talvez um dia, quem sabe?


ah


Eu sou inocente. 


Foto de Devon Wilson na Unsplash

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