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Vem comigo.
Vou te levar aos lugares que só conheceste em sonhos. Farei teus pés te guiarem sem tocar o solo, e teu peito será um farol na mais profunda treva. Não terás medo do escuro, pois estará comigo e saberá que não permitirei que nenhum mal se aproxime, seja na terra dos vivos ou dos mortos, entre os bons, os maus e os indiferentes.
Eu te contarei minhas histórias e aventuras enquanto teus olhos se iluminarão vidrados, e ouvirei com atenção tuas demandas. Terás meu afago e meu carinho e em mim encontrarás conforto e conselho. Serás meu companheiro, e juntos seremos reconhecidos como partes de um todo.
E terás estes momentos breves e felizes, ao custo de saber que não serão eternos, e minha ausência, quando vier, te preencherá de uma melancolia, um estado intermediário entre o tédio e o desinteresse, esperando impaciente por meu retorno, que se dará de forma cada vez mais diminuta até desaparecer completamente.
Deves então ser forte e suportar a tristeza, buscar no que te ensinei a apreciar a beleza das coisas e a vontade de lutar por elas. Seguirás em frente e encontrarás outros para aos quais tu passará a mesma confiança que passei a ti.
Novos dias de felicidade surgirão, embora sei que em determinadas horas ficarás em silêncio reconstruindo e revivendo mentalmente nossos momentos e isso trará a dor e a alegria da saudade.
Eu não posso ficar, pois sou eu nada mais que ilusão. Existirei apenas em teus sonhos, e embora isso soe triste e até cruel, encararás essas lembranças como dádivas de um passado que o moldou, como quero acreditar, em alguém melhor.
Enquanto não chega esse dia, caminhe comigo. Sou a miragem que o salva desse abismo solitário. Não preciso ser eterno, e nem mesmo verdadeiro. De mim só precisas que eu seja teu amigo e companheiro.
Vamos aproveitar o tempo que nos resta.
Vem comigo.
Foto de Joshua Earle na Unsplash
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