Foi numa semana nublada, onde as sombras passaram despercebidas. Os sinais deveriam ser claros, mas foram tratados com desdém. Um amor tão puro foi negligenciado até ser tarde demais.
Tudo conspirou para que estivesse sozinho, vulnerável e indefeso.
Não havia a quem recorrer. O colapso foi inevitável.
A morte veio certeira, impassível, como em todas as vezes, indiferente ao desespero.
Vi seu corpo com vida numa última foto, mas havia me despedido poucas horas antes. Não sabia que seria o fim, mas também senti a gosto acre da perda.
Subi a infindável rua a pé, sozinho, com a chuva leve endossando as lágrimas. Ele não estava mais comigo, era o fim, e uma música triste tocava repetidamente e sem controle na minha cabeça.
Quando os astros se alinharam de novo, não havia mais o que fazer, a natureza cumpriu seu propósito inexplicável, arrancando a vida pura de um amor genuíno.
Então apenas dor.
Um enterro foi providenciado.
Lembranças atravessando os pensamentos como lâminas afiadas.
E apenas dor.
Lembranças e dor.
Lembranças, dor e saudade.
Saudade.
Queria esquecer, mas quase um ano depois, as lâminas ainda voltam com força.
Não quero esquecer.
A dor não vai mudar. Talvez seja possível nos adequar a esse vazio, esquivar-nos por alguns momentos, mas nunca completamente.
E ninguém quer mais saber, ninguém quer mais ouvir.
Só que eu ainda estou aqui. E ainda tenho saudade. Ainda dói.
E por mais que siga em frente, sei que sempre vai doer.
Lembranças, dor e saudade.
No fim a morte é a única certeza, então por que esperar um final feliz?
Todo dia é diferente do outro.
As vezes eu me esqueço.
E as vezes dói ainda mais.
Saudade.
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