Liberto de meu transe voltei a ouvir os pensamentos humanos vagando à minha volta e me intoxicando deles.
Pude também sentir seu cheiro rubro e quente me chamando. É um tipo de percepção que eles não suportariam.
As trevas me cobrem e quando me dou conta já estou em caça.
Não existe dor em minha forma imortal.
Não existe culpa nem arrependimento.
Apenas a fome me domina, exigindo ser saciada.
É uma exigência que não pode ser negada. Tudo o mais não importa, não tem sentido nem importância. O tempo e o espaço são conceitos pueris. Existir ou não existir não é o que me motiva. A fome sim.
E a satisfação de ter a fome saciada.
Sei que eles não podem me ver, sou rápido demais.
Existo além da parca compreensão de seus limitados cinco sentidos.
Então as noites são assim, caçando, me alimentando.
Não me importo quem é a vítima.
Não olho em seus olhos e ignoro seus pensamentos.
Tudo o que me importa é o sangue me fortalecendo, me extasiando.
Então as noites passam, os séculos passam.
Eu volto ao meu transe diurno e embora não precisasse dormir, me entrego ao sono e sonho sonhos molhados, vermelhos e quentes, onde os pensamentos mundanos dos humanos são abafados por intermináveis gritos de desespero.
O sorriso talhado em meus lábios é apenas uma deformidade, um resquício de algo que fui há tempos.
Não existe alegria ou felicidade em minha não vida. Existe apenas fome.
Então eu desperto de meu transe autoimposto.
É hora de caçar novamente.
Lindo o poema!
ResponderExcluirLindo o conto!!!
Obrigado!!
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